~ Você on~
Na sexta-feira de manhã fingi novamente que estava indisposta, falei
também que Maya passaria aqui depois da aula para me passar a matéria dos dois
dias, o que não era mentira, mas Maya queria ajuda para o encontro com Zayn.
Obviamente não comentei nada sobre isso com minha mãe.
__ Então tudo bem. Acho bom mesmo você ficar em casa para se recuperar.
Será que eu não deveria chamar um médico? - Minha mãe disse antes de sair para
o trabalho.
Balancei a cabeça negativamente.
__ A febre até já passou! Só estou meio enjoada.
Ela concordou com a cabeça e saiu do meu quarto.
Depois que eu ouvi a porta da frente ser fechada me ajeitei na cama. A
manhã seria longa, sem nada para fazer, mas estranhamente eu não estava com
vontade de dormir.
Me levantei e liguei meu computador, escutei novamente todas as
gravações de nossa investigação. Parecia-me que eu estava deixando passar algum
ponto importante...
Quando eram dez horas da manhã vesti uma roupa esportiva e saí para
caminhar e espairecer um pouco. Precisava pensar e a minha casa parecia de uma
forma pequena e fechada demais.
Comecei caminhando pela minha rua, cada vez mais rápido até estar
correndo. Eu devia realmente entrar para a equipe de corrida da escola,
precisava de atividades físicas e sem querer me gabar, eu corria muito bem.
Segui correndo sem nem prestar atenção aonde eu estava indo realmente,
então passei tão rápido que precisei voltar.
Na porta de uma lanchonete havia um cartaz que anunciava uma vaga para
garçonete.
Entrei e fui até o balcão.
__ Vocês estão precisando de alguém? - Perguntei.
A garota ruiva do balcão me analisou com os olhos e depois sorriu.
__ Sim, estamos. Você quer se candidatar à vaga?
Assenti.
__ Certo, vou chamar o gerente. - Ela disse.
Dois minutos depois ela volta dos fundos com um homem baixinho.
__ Você quer se candidatar à vaga? - Ele perguntou com um sorriso
simpático no rosto. - Qual o seu nome?
__ Seunome. - Respondi. - Baker. - Acrescentei.
__ Claro. Não que precise, mas você tem experiência?
Neguei com a cabeça.
__ Não, senhor.
Ele assentiu e continuou.
__ Quantos anos você tem?
__ Dezesseis. - Respondi.
__ Seus pais estão de acordo?
__ Sim. - Respondi.
__ Mas eles podem vir aqui? Ainda hoje de preferência.
__ Claro, vou ver com eles. Até
que horas...?
__ Até as onze, vamos fechar mais cedo hoje.
__ Certo, então mais tarde eu venho aqui e vejo todos os detalhes,
mas...
__ Mas?
__ Bom, eu tenho que ver horários, faltam umas duas semanas para
acabarem as minhas aulas, então durante esse tempo eu...
__ Não se preocupe com isso, resolvemos mais tarde. - Ele me interrompeu
para me tranquilizar.
__ Obrigada, - Eu disse. - Até mais tarde.
Depois de falar com o gerente da lanchonete corri mais um pouco e então
fiz uma volta pela rua de cima, menos movimentada que a de baixo seria, e
voltei para casa. Tomei um banho e me sentei em frente à televisão com algumas
besteiras para comer. Mas não consegui me concentrar no programa, minha cabeça
insistia em voltar para as gravações, especialmente à da senhora da casa à
direita da de Chris e à gravação da conversa com Tom.
No final almocei mais cedo e resolvi dar uma arrumada na casa. Lavei a
louça, tirei o pó, varri. Eu estava já toda suada novamente, resolvi tomar um
outro banho.
Quando estava desenredando meu cabelo, a campainha toca. Abro a porta
para uma sorridente Maya.
__ E aí? - Ela pergunta entrando. - Como vai não ter que assistir à uma
manhã inteira de aulas chatas?
Reviro os olhos e rio.
__ Entediante, se quiser acreditar.
Ela me analisa com os olhos semicerrados e então balança a cabeça.
__ Não, não acredito. - E então tira a mochila dos ombros. - Aqui estão
as matérias. A professora de Biologia e a de Inglês passaram tanto tema que eu
acho que a gente só vai terminar depois de estar formadas. É sério, se eu fosse
você começava a copiar agora.
Segui o conselho de Maya, subimos e eu reuni todo o meu material em cima
da minha cama enquanto ela ficava passeando na minha frente, nervosa.
__ Me diz o que eu devo fazer.
__ Agir normalmente. - Digo.
Ela revira os olhos.
__ Sem essa de seja você mesma. - Ela diz gastando a sola dos sapatos. -
Você conhece o Zayn, me diz do que ele gosta.
Dei de ombros.
__ Ele gosta de coisas normais.
__ E que coisas normais seriam essas?
__ Descubra você mesma hoje à noite.
__ Você não está ajudando! - Ela protestou caindo sentada na cadeira da
escrivaninha. - Como é que eu faço para ele se apaixonar por mim?
Suspirei.
__ Maya, você é incrível, ele com certeza vai cair ao seus pés. - O
aperto em meu estômago me mostra que eu não acredito de fato no que eu acabei
de dizer, mas eu tenho que acalmar Maya.
__ Ai Seunome! Eu tô tão nervosa, eu esperei quase a minha vida toda só
pra esse momento.
Eu sorri pra ela.
__ Eu que sei. - Mas então fiquei séria. - Mas não se deixe levar.
Ela revira os olhos e ri.
__ Se depender de mim eu é que vou fazê-lo deixar-se levar.
Foi a minha vez de revirar os olhos.
__ Só não faça nada do que se arrependa depois.
Ela fecha a cara.
__ Você só pode estar brincando! Você quer me deixar mais nervosa? Só
porque eu não sei como agir em uma cama... ou não necessariamente numa cama.
Você podia dar umas dicas! - Os olhos dela brilhavam de expectativa.
Eu não sei o que me chocou mais, Maya querer dormir com Zayn logo no
primeiro encontro ou ela achar que eu já tinha algum tipo de experiência com
isso.
Então apenas balancei a cabeça e disse o que eu julguei ser mais
sensato.
__ Sua primeira vez tem que ser especial, é melhor não se precipitar.
Ela suspira.
__ Claro Mamãe! - E ri.
Mas eu não rio.
__ Eu tô falando sério Maya, não tem motivos e talvez você tenha que
esperar para achar uma pessoa especial...
__ Mais especial do que Zayn Malik? O garoto mais gato e popular da
escola?
Balanço a cabeça.
__ Você nunca sabe o que esperar das pessoas.
__ Mas você vive com ele! Estão sempre juntos, contou da Chris pra ele
antes de contar pra mim! Você disse que ele é o seu melhor amigo! - A voz dela
estava irritada.
__ Sim Maya, Zayn é um cara legal, mas é que... - Como eu explicaria
para ela que ele tinha o mesmo problema que eu em relacionamentos? - talvez ele
não seja o cara certo pra você. - A expressão na cara dela me fez acrescentar
rapidamente. - Talvez ele seja a sua alma gêmea, talvez não. Só não faça nada
antes de ter certeza.
A expressão de Maya se suavizou.
__ Nossa, Seunome que susto você me deu! Por um momento pensei que você
não queria que a gente ficasse junto.
Ri.
__ É claro que u quero que vocês dois sejam muito felizes! - Tomei o
cuidado de não acrescentar juntos. Eu
queria muito que os dois ficassem juntos, mas independentemente do que
acontecesse, eu queria que fossem felizes.
Ajudei Maya a escolher sua roupa, ela havia tirado fotos de todo o
guarda-roupa dela e no final ela pegou uma blusa minha emprestada. Quando
bateram cinco horas ela resolveu ir embora para se arrumar.
__ Eu preciso estar perfeita! - Ela disse dando pulinhos.
Eu ri.
__ Não exagera na maquiagem, muita base te deixa muito artificial e muito
pó...
__ Me deixa parecendo que mergulhei a cabeça num saco de farinha. Tá eu
já sei, você já disse isso. - Ela completou pra mim.
__ Nunca custa lembrar. - Dei de ombros.
Maya parou por um momento me analisando e então me abraçou.
__ Você é a minha melhor amiga, sabe disso né? Você mesmo com esse seu
jeito estranho é a única que me entende sem ter passado por nada parecido.
Fui pega de surpresa com as palavras de Maya, então ela se afastou e
mudou a expressão.
__ Mas se você contar isso pra Shana ou para a Chris depois que a gente
encontrar elas eu juro que te mato! - Ela ameaçou e eu ri.
__ Maya, você é única. Só se o Zayn for o maior idiota ele vai
desperdiçar a chance que tem com você.
__ Você acha? - Ela pergunta insegura.
__ Eu tenho certeza. - Eu sorri para ela. - Você é maravilhosa.
O rosto dela ganhou um sorriso gigante e ela saiu.
Às seis horas da tarde meu pai chegou de viagem, minha mãe ainda não
havia voltado do trabalho.
Como eu não tinha tempo a perder, logo depois de ele ter dado um pequeno
resumo da sua viagem, eu lhe contei sobre a vaga de emprego na lanchonete.
Meu pai sorriu.
__ É claro que você tem autorização, eu vou com você. - Ele checou seu
relógio de pulso e disse. - Vamos logo para voltarmos e pegarmos sua mãe para
jantar fora.
Eu sorri.
Voltei à lanchonete com meu pai e acertamos tudo. A partir de agora o
turno da ruiva ia ser o inverso do meu, e consideravelmente maior que o meu.
Eu trabalharia das três da tarde até as sete. Antes de mim e depois de
mim era tudo com ela, ou seja, das sete da manhã até as três e das sete da
noite até a meia-noite. Eu realmente iria compensar isso assim que as minhas
aulas acabassem.
Ruth, a ruiva bonitona, não pareceu se importar, na verdade ela estava
feliz de não ter que trabalhar o dia inteiro e ter uma folga durante a tarde.
Eu começava na segunda-feira, e por enquanto não trabalharia durante os
finais de semana. Fiquei curiosa para saber o que impulsionava Ruth a ter um
emprego quase sem folgas, a não ser no domingo.
Voltamos para casa e minha mãe já tinha chegado, coloquei uma roupa
melhorzinha para sair e fomos jantar.
Durante o jantar, depois que o pai falar sobre algumas coisas da viagem,
meu pai contou para a minha mãe sobre o meu novo emprego.
Sua postura feliz mudou drasticamente para irritada.
__ Como assim Seunome? Não era para você arranjar um emprego, ainda mais
que está doente. Para que você quer um emprego? É por causa daquela história do
carro, não é? Eu já disse que seu pai eu
damos o carro para você, não precisa trabalhar, não ainda. Só estude, deixe o
resto com nós. Seunome você está doente! Não era nem para estar aqui agora, era
para estar em casa descansando.
Meu pai acalmou minha mãe e então me lançou um olhar interrogativo antes
de perguntar para ela:
__ Doente?
__ Sim. - Minha mãe concordou veementemente com a cabeça. - Ela nem pôde
ir nas duas últimas aulas na escola, estava com febre. Era para termos ficado
em casa...
__ Você não acha uma boa ideia Seunome querer trabalhar? - Meu pai perguntou,
mas senti que a intenção era mudar o rumo da conversa.
Minha mãe olhou nos olhos do meu pai e então olhou para mim:
__ Desculpe filha, eu só estava preocupada. - Então ela sorriu. - Tem
certeza de que quer trabalhar. Você não precisa, podemos dar tudo o que você
quiser.
__ Tenho. - Eu disse convicta.
__ Você sabe como nossa filha é teimosa, quando coloca uma ideia na
cabeça ninguém tira. - Meu pai disse para minha mãe.
__ Bem, se você acha que isso vai te fazer bem, tudo bem para mim. - Ela
sorriu e eu e meu pai rimos.
__ Quantos "bem" tem na sua frase? - Meu pai brincou.
Quando voltamos para casa minha mãe disse que cedo tinha que terminar
uma casa, então ficamos apenas eu e meu pai.
__ Que história é essa de você estar doente e faltado às aulas? Você
teve na lanchonete hoje, não estava em casa como sua mãe pensava.
Suspirei.
__ É uma longa história.
__ Tenho tempo. - Ele disse.
Contei a ele sobre Chris e sua mãe. Sobre as investigações que eu e
Shana iniciamos e que logo Zayn e Maya se juntaram a nós, mas deixei de fora
muitos detalhes que poderiam preocupá-lo. Contei a ele sobre o plano para pegar
a ficha de Chris e o atestado.
__ Por isso eu não podia ir à aula durante esses dois dias, fingi para a
mamãe que eu estava doente.
Meu pai assentiu.
__ Realmente é bastante coisa, mas não devia ter agido assim. Devia ter
nós avisado para que pudéssemos fazer algo.
__ Shana tem medo de acionar a polícia.
Ele considerou por um tempo.
__ Ela tem pode ter razão, mas precisamos de ajuda.Vamos pensar em algo.
Precisamos. Vamos. Ele se incluiu. Onde foi que eu já vi isso antes? Alguém que se inclui
sem que eu peça e que não muda de ideia por nada no mundo, só para me ajudar?
__ Certo, mas dê um tempo para Shana.
Ele me analisa e diz:
__ Sim, vamos dar um tempo, mas não quero mais você envolvida em
investigações sem proteção.
Sem proteção. Ele não me proibiu completamente, eu posso investigar se eu estiver
segura. Mas quem pode me oferecer segurança?
Concordei com a cabeça e então ele sorriu.
__ Então a minha filhinha começa a trabalhar na segunda-feira...
Garçonete?
Fiz uma careta.
__ Eu quero. Eu quero me tornar independente e conseguir as coisas com o
meu próprio mérito.
__ Eu sei, e isso me deixa muito orgulhoso. - Ele se levantou e beijou a
minha testa. - Muito orgulhoso. Agora vá dormir!
Obedeci-o. Me levantei do sofá e fui dormir.
Cinco minutos depois de fechar os olhos meu celular tocou.
__ Seunome? Tá acordada? Não importa, acorda! - A voz esganiçada do
outro lado era de Maya.
__ Eu estou acordada. - Eu disse rouca.
__ Ótimo, eu estava esperando chegar amanhã, mas eu não me aguentei.
__ O que aconteceu? - Me despertei por completo.
__ É que... não aconteceu nada.
__ Como assim? - Perguntei confusa. Por que ela me ligaria para me dizer
que não aconteceu nada?
__ Ah... eu e o Zayn, não rolou nada... profundo, me entende.
Eu ri.
__ Você está rindo Seunome? Isso não é engraçado... ele não gostou de
mim, eu sabia que isso ia acontecer...
__ Calma Maya. - Ela parou. - Mais profundo? É sério? - Eu ri de novo,
mas parei em seguida para não irritá-la mais. - Maya, isso não é um problema.
Eu disse que não era para você se importar com isso...
__ Ele nem quis me beijar!
Me sentei ereta na cama.
__ Como assim?
__ Nós nem nos beijamos... eu tentei, mas ele recuou. Ele fingiu que não
percebeu que eu queria beijá-lo! Ele me ignorou!
__ Não. - Disse. - O Zayn é desligado mesmo, ele não deve ter percebido
mesmo.
__ Você acha mesmo? - Ela perguntou nervosa.
__ Sim. - Menti. Zayn não tem nada de desligado.
Ela suspirou.
__ Isso não quer dizer nada então? Ele é assim mesmo?
__ É. - Menti mais uma vez. - Mas o que mais vocês fizeram?
__ Ele me buscou em casa, me levou em um restaurante bem legal, então a
gente jantou e conversou. Então ele me deixou em casa.
Da forma como Maya descrevia parecia bem sem-graça, coisa que eu
duvidava muito que fosse.
__ E...? - Perguntei.
__ Mais nada! - Ela parecia frustrada.
__ Ele só estava querendo conhecer você... na próxima vez vai ser
melhor, tenho certeza.
__ Próxima vez? Você acha que vai ter uma próxima vez?
__ Tenho certeza! - Eu exclamei.
__ Vou... hum... deixar você dormir.
__ Obrigada Maya. - Brinquei. Pude visualizá-la fazendo uma careta do
outro lado da linha. - Amanhã eu vou aí na sua casa.
__ Certo, vou te esperar. - Eu ri.
Desliguei e voltei a dormir pensando em quantas mentiras contei para
Maya.