Assim que estava fechando a gaveta ouvi a porta bater e uma voz nada amistosa perguntar:
__ O que você está fazendo aqui?
~ Você on ~
Tomei fôlego e me virei lentamente para encarar Liam Payne.
E continuei o encarando sem dizer nada, o que o obrigou a repetir a pergunta:
__ O que você está fazendo aqui?
Saí do meu modo surpresa e parti para o modo ataque. O ataque é sempre a melhor defesa.
__ O que você está fazendo aqui?
__ Eu perguntei primeiro. - Ele disse devagar.
__ Você não devia estar aqui. - Eu retruquei.
__ Nem você. - Ele disse e me encarou.
E, estranho ou não, esse foi o diálogo mais longo que eu tive com Liam Payne a minha vida inteira.
E não era de se impressionar, depois do cara dizer que te odeia e te chamar de vadia sem você ter feito nada, é de se impressionar que eu não tente um homicídio por aqui.
Eu o encarei por um tempo, tentando colocar todo o meu desprezo possível no meu olhar e enviá-lo na mesma magnitude que eu estava começando a sentir. Depois revirei os olhos enquanto ele me lançava um olhar que, eu pensava, era um espelho do meu.
Eu já estava indo irritadamente em direção à porta quando um barulho do outro lado me paralisou.
E então ouviu-se um clique seguido de outro e os passos foram para longe.
Liam reagiu antes de mim:
__ Droga! - Ele exclamou.
__ Não, não, não... - Murmurei enquanto tentava inutilmente abrir a porta. Estávamos trancados aqui dentro. A maldita secretária me trancou em uma sala com o garoto que mais me odeia no mundo. Isso só pode ser algum tipo de piada sem graça.
__ Quando é que você vai perceber que isso não adianta? - Ele perguntou com desdém.
Eu o ignorei e me sentei com as costas escoradas na porta enquanto pensava as minhas opções.
Opção 1: Eu gritava por socorro, a secretária vinha, abria a porta, eu era suspensa no mínimo, talvez até expulsa, minha mãe me colocaria de castigo para sempre, eu não poderia ter o meu carro no meu aniversário... Se eu saísse viva da conversa que eu teria com a minha mãe, o que eu duvidava muito.
Opção 2: Eu ficava aqui até amanhã de manhã com Liam Payne, o vilão da história, o babaca idiota que me detesta. Morro de fome e estouro a minha bexiga e morro, muito provavelmente. A não ser que tenha uma latinha aqui e eu peça educadamente para o brutamontes dar uma viradinha enquanto eu faço xixi.
Não sei qual das duas opções me dá mais vontade de cometer suicídio aqui e agora. Talvez Liam seja acusado pelo meu assassinato e se encrenque bastante.
O mais sinistro foi que essa ideia me fez dar um sorrisinho.
__ O que é tão engraçado? - Ele perguntou mal-humorado e finalmente meu olhar recaiu sobre ele. Ele estava no outro canto da sala também sentado e escorado na parede.
__ Nada que te importe. - Eu disse enquanto pensava que eu pudesse considerar a minha divagação como a Opção 3.
__ Bem, não sei se você percebeu com o seu cérebro de patricinha, mas nós estamos trancados aqui dentro.
Eu não conseguia acreditar no que eu tinha acabado de escutar.
__ Eu estou surpresa que você com o seu cérebro de ervilha tenha conseguido chegar nessa conclusão sozinho. - Eu contra-ataquei irritada.
E então eu me lembrei que talvez Shana, Maya e Zayn gostassem de saber que eu estava trancada dentro da sala de arquivos e registros da secretaria. Peguei meu celular e, com vontade de chorar até morrer, eu constatei que não tinha uma única barrinha de sinal.
__ Merda! - Xinguei baixinho batendo com a minha cabeça na porta.
Liam revirou os olhos e disse:
__ Eu já tentei isso antes.
Fechei os olhos e resmunguei:
__ Se você não calar a boca eu vou te matar e alegar legítima defesa quando eu sair daqui. - Assim que terminei comecei a considerar essa a minha Opção 4.
Já são quase quatro e quinze. Devem fazer uns dez minutos que a secretária nos trancou aqui dentro, o que quer dizer que nesse instante ela deve estar trancando o portão da entrada.
O que quer dizer que a Opção 1 está fora de cogitação agora.
E eu não quero nem considerar a opção 2.
Então, como sou nova demais e tenho uma longa vida pela frente, descarto a opção 3. Mas fico tentada a pôr a opção 4 em prática quando Liam diz:
__ De todas as pessoas no mundo, eu tinha que ficar aqui dentro justo com essa aí.
__ Pelo menos em uma coisa concordamos. - Eu disse sem abrir os olhos ainda.
A minha opção 5 que me restava era procurar um maldito sinal aqui dentro.
Então levantei com o meu celular em mãos e andei até perto da pequena janela. Não que eu não tenha a notado antes, mas ela não é do tipo que dá pra se abrir, o vidro é colado, só permite a entrada de luz.
Levantei meu celular acima da cabeça, mas ainda não havia sinal algum.
__ Por acaso tem algum escudo magnético aqui nessa sala? - Perguntei frustrada. - Não é possível que aqui não tenha sinal.
Liam me encarou como se eu fosse a maior idiota do mundo, ou algum tipo de ser inferior, e disse lentamente:
__ Há uma central militar aqui perto.
É claro, como eu me esqueci disso? Embora ele estivesse um pouco errado.
__ É aérea. - Eu disse me dando um tapa mental na testa. A cobertura de satélite aérea cria uma onda magnética, quando ligada é claro, que impede a captação de sinal a ambientes próximos.
__ Eles desligam às seis. - Ele disse. - E então religam uma hora e meia depois, por aí. - Liam disse.
__ Como você sabe disso? - Perguntei surpresa.
Ele me olhou como se eu fosse uma retardada.
__ Meu pai trabalha lá. E eles não podem ofuscar o sinal o tempo todo, de madrugada eles desligam de novo e religam de manhã.
__ E, tipo, sei lá, isso não dá problemas? Quer dizer, é uma cobertura militar, eles não devem estar atentos?
Ele semicerrou os olhos para mim.
__ Não tem nenhum motivo para estar ligada, eles só fazem isso porque é padrão. Faz treze anos desde que isso foi útil, agora é só um problema. Por mim desativavam aquilo. - Ele disse como se importasse.
__ Mas e seu pai não trabalha lá? - Perguntei.
__ E daí? - Ele perguntou.
__ Bem, pelo que parece, se eles desativarem lá, ele não acaba perdendo o emprego dele?
__ Ele é transferido. - Ele disse do mesmo modo lento e eu fiquei me sentindo uma idiota e resolvi calar a boca e me sentar no mesmo lugar.
Não sei como em algum momento da minha vida eu pude gostar desse garoto. Quer dizer, eu fui apaixonada por ele por cinco anos, em segredo é claro, e os únicos que sabiam era Shana e Zayn. Mas aí o cara é tipo como ele é. Um. Completo. Imbecil.
Depois de alguns minutos em silêncio, nos quais eu fechei os olhos e me concentrei em me imaginar sentada no meu quarto, fingindo que estava apenas descansando a cabeça depois de um dia intenso, que eu havia conseguido fazer o que me tinha sido proposto e voltado em segurança para casa, Liam fez questão de estragar tudo e dizer:
__ Como vai o seu... hm... parceiro de trabalhos? - Ele parecia desdenhoso.
Eu abri os olhos e o encarei.
__ Você está falando do Zayn? - Perguntei.
Ele bufou.
__ Não sabia que já tinha outro.
Eu ignorei o último comentário dele e franzi a testa.
__ Mas vocês não são melhores amigos? Por que você está, tipo, perguntando isso pra mim?
Ele me olhou incrédulo por um minuto e depois deu um sorrisinho amargo e sarcástico.
__ Então ele não te contou?
__ Me contou o quê? - Tive o cuidado de manter a mesma expressão neutra no rosto.
__ Bem, parece que não. - Ele continuava com a mesma expressão amarga e sarcástica. - Para você entender eu vou ter que te contar uma pequena história. Quando eu estava na sétima série, e eu e ele, bem não sei como, éramos melhores amigos, fizemos um pacto. Esse pacto foi criado porque quisemos sair com a mesma menina e meio que brigamos por causa disso. Então juramos um para o outro, olha só que ridículo, que nossa amizade estaria acima de qualquer garota idiota. E isso funcionou bastante bem. Mas olha só, - Ele se desencostou da parede e se inclinou para a frente. - parece que você está além e acima desse juramento, talvez porque tenha aparecido antes, eu não faço ideia. - Ele pausou e desviou o olhar. - De qualquer forma, quebramos o pacto e com isso não somos mais amigos.
Eu fiquei embasbacada encarando o Liam.
__ Mas isso não faz sentido. - Ele voltou o olhar para mim.
__ O que não faz sentido? - Ele perguntou com o mesmo risinho amargo e sarcástico.
__ Porque não é como se vocês dois estivessem afim de mim. Olha só, você me odeia. E Zayn pode até ser o meu melhor amigo, mas não é mais que isso. E mesmo que fosse algo mais, você já deixou bem claro que não está interessado. Então: Isso. Não. Faz. Sentido. Nenhum.
Ele me encarou, realmente me encarou, e me analisou descaradamente.
__ Bem, parece que você realmente acredita nisso. - Ele disse e pareceu surpreso.
Ok, eu não estava entendendo diabos agora.
~ Shana on~
__ Ela não está demorando demais? - Perguntei nervosa e então vimos a secretária sair de carro da escola.
__ Por que ela ainda não saiu? - Perguntou Maya.
__ Isso não é uma boa coisa, ela já deveria ter saído. Quer dizer, a escola está trancada. - Eu disse apontando o óbvio.
__ O celular dela ou está fora de área, ou desligado. - Zayn disse.
__ Seunome nunca desliga o celular. - Maya disse o que eu estava pensando.
__ Droga! - Eu disse me dando conta. - Não tem uma base aérea do lado leste da escola?
__ Tem. - Zayn disse arregalando os olhos. - É do mesmo lado da sala de registros. Caraca! O sinal não pega lá.
__ E agora? - Perguntei começando a entrar em pânico. - Como vamos tirá-la de lá?
__ Não podemos invadir a escola. - Zayn disse. - É muita proteção, acho até que tem um alarme no portão.
__ Tem uma janela na sala. - Falei.
__ Sim, é verdade, tem mesmo. - Zayn disse me encarando com o rosto de repente iluminado. - E Seunome não tem nada com o que quebrá-la.
__ E por que ela simplesmente não abre? - Maya disse chamando a atenção de Zayn para ela.
__ Porque é vedada. - Ele diz. - Não tem como abrir.
__ Mas isso não seria vandalismo? - Perguntei preocupada. - Eles vão investigar quem fez isso e por que fez isso. Não tem como sermos mais discretos?
__ Não tem como entrarmos pelo portão. - Zayn disse.
__Não tem nenhuma entrada pelos fundos? - Perguntei esperançosa e Zayn me examinou.
__ Acho que tem uma cerca, mas podemos dar uma olhada. - Zayn disse.
__ Então vamos lá! - Maya exclamou. - Vamos dar uma olhada logo e ver o que podemos fazer para tirar Seunome de lá.
__ Só tem uma coisa que eu não entendo. - Zayn disse enquanto fazíamos a volta pelo lado oeste, para não ter que passar pela frente da escola. - Ela não devia ter demorado tanto. Eu espiei ela entrando lá, não era para ela ter levado mais de cinco minutos para sair de novo.
__ Vai ver ela não estava achando onde ela tinha que botar o registro da Chris. - Maya sugeriu.
__ Não, nós explicamos para ela. - Eu disse descartando a possibilidade. - Essa é uma boa pergunta. Alguma coisa aconteceu.
~ Você on~
__ É claro que eu acredito nisso. É a verdade, por que eu não acreditaria? - Eu disse começando a ficar irritada.
Liam me encarou e eu balancei a cabeça.
__ Por que eu estou dando satisfações a você sobre a minha vida mesmo? Quer dizer, você já deixou bem claro que me odeia. Agora ainda mais, parece que roubei o seu posto de melhor amigo do Zayn. - Eu disse finalmente irritada.
__ Você acha que eu estou bravo com você porque você roubou o, como você disse? Meu posto de melhor amigo do Zayn?
__ Não, eu não faço ideia do por que você está bravo comigo. Você não me parece ser bem certo. - Eu disse com a voz carregada do mesmo desdém que acabara de abandonar a dele. - Quer dizer, você fica aí espalhando ódio gratuito. Mas o que você acabou de dizer foi isso: Roubei o seu posto.
__ Eu não espalho ódio gratuito! - Ele disse defensivamente.
__ Você já deixou bem claro que me odeia e eu nunca fiz nada para você! - Quase gritei.
__ Isso não é verdade! - Ele disse se levantando e parando bem à minha frente.
__ É claro que é! - Eu disse me levantando e parando à frente dele também. - Eu nunca fiz nada para você!
__ Não é verdade que eu te odeio! - Ele gritou e então se virou de costas para mim enquanto passava a mão na nuca.
Eu fiquei parada lá, com uma cara de tonta.
__ Você não me odeia? - Me peguei dizendo com uma voz baixa e esperançosa.
Liam se virou para me encarar e eu vi a dor nos olhos dele.
__ Não sei... não, eu não odeio você. - Liam disse e passou a mão no rosto. - É tudo tão complicado!
__ O que é complicado?! - Eu perguntei exasperada.
__ Você! - Ele gritou. - Você é complicada! - E então ele baixou a voz e olhou para o chão ao invés de mim. - Eu não sei ser rejeitado.
__ Mas eu nunca rejeitei você! - Eu disse rápido. E então me toquei do quão ridícula eu estava soando. - Eu nem sei do que você está falando. - Eu disse com a compostura que me restava.
Ele me encarou.
__ Eu... eu não disse que você me rejeitou! - Ele disse recuperando a máscara de desdém. Foi aí que eu percebi que era tudo uma fachada, e que, principalmente, eu estava cansada de fingir.
__ Mas foi o que você quis dizer. - Eu disse e dei um passo hesitante em direção ao Liam. - Eu só não sei do que você está falando.
__ Nada que você possa entender com o seu raciocínio lento. - Ele disse coberto pela sua fachada e seu risinho irônico de desdém.
__ Não sei por que você faz isso. - Eu disse balançando a cabeça. - Por que você sente tanto prazer em me humilhar?
Ele me olhou. Analisou o meu rosto e sua expressão foi se dissolvendo aos poucos.
__ Por que você é tão cruel? - Continuei e segurei a respiração esperando a sua explosão de raiva.
Mas ela não veio.
Ao invés disso Liam cobriu o espaço que nos separava em dois passos rápidos e encontrou o meu olhar.
__ Por que você acha? Você sempre me ignorou.
__ Não Liam. - Eu neguei. - Eu nunca ignorei você. Na verdade eu sempre admirei você.
Ele me analisou com os olhos mais uma vez, e me surpreendendo da forma mais improvável, Liam me beijou.
Foi um beijo meio violento. Liam abraçou a minha cintura e me puxou para o mais perto possível dele. Eu finalmente tive uma reação: passei meus braços sobre os ombros dele e comecei a corresponder.
E então o barulho de vidro quebrando me tirou do meu transe e me fez olhar para a janela, agora quebrada, onde estavam os meus melhores amigos nos assistindo com expressões diferenciadas.
Maya me lançava um sorrisinho cúmplice.
Shana me lançava um olhar sério e reprovador.
Zayn parecia mais que irritado e fulminava Liam com o olhar.
Pelo menos eles foram me salvar.
~ Você on ~
Tomei fôlego e me virei lentamente para encarar Liam Payne.
E continuei o encarando sem dizer nada, o que o obrigou a repetir a pergunta:
__ O que você está fazendo aqui?
Saí do meu modo surpresa e parti para o modo ataque. O ataque é sempre a melhor defesa.
__ O que você está fazendo aqui?
__ Eu perguntei primeiro. - Ele disse devagar.
__ Você não devia estar aqui. - Eu retruquei.
__ Nem você. - Ele disse e me encarou.
E, estranho ou não, esse foi o diálogo mais longo que eu tive com Liam Payne a minha vida inteira.
E não era de se impressionar, depois do cara dizer que te odeia e te chamar de vadia sem você ter feito nada, é de se impressionar que eu não tente um homicídio por aqui.
Eu o encarei por um tempo, tentando colocar todo o meu desprezo possível no meu olhar e enviá-lo na mesma magnitude que eu estava começando a sentir. Depois revirei os olhos enquanto ele me lançava um olhar que, eu pensava, era um espelho do meu.
Eu já estava indo irritadamente em direção à porta quando um barulho do outro lado me paralisou.
E então ouviu-se um clique seguido de outro e os passos foram para longe.
Liam reagiu antes de mim:
__ Droga! - Ele exclamou.
__ Não, não, não... - Murmurei enquanto tentava inutilmente abrir a porta. Estávamos trancados aqui dentro. A maldita secretária me trancou em uma sala com o garoto que mais me odeia no mundo. Isso só pode ser algum tipo de piada sem graça.
__ Quando é que você vai perceber que isso não adianta? - Ele perguntou com desdém.
Eu o ignorei e me sentei com as costas escoradas na porta enquanto pensava as minhas opções.
Opção 1: Eu gritava por socorro, a secretária vinha, abria a porta, eu era suspensa no mínimo, talvez até expulsa, minha mãe me colocaria de castigo para sempre, eu não poderia ter o meu carro no meu aniversário... Se eu saísse viva da conversa que eu teria com a minha mãe, o que eu duvidava muito.
Opção 2: Eu ficava aqui até amanhã de manhã com Liam Payne, o vilão da história, o babaca idiota que me detesta. Morro de fome e estouro a minha bexiga e morro, muito provavelmente. A não ser que tenha uma latinha aqui e eu peça educadamente para o brutamontes dar uma viradinha enquanto eu faço xixi.
Não sei qual das duas opções me dá mais vontade de cometer suicídio aqui e agora. Talvez Liam seja acusado pelo meu assassinato e se encrenque bastante.
O mais sinistro foi que essa ideia me fez dar um sorrisinho.
__ O que é tão engraçado? - Ele perguntou mal-humorado e finalmente meu olhar recaiu sobre ele. Ele estava no outro canto da sala também sentado e escorado na parede.
__ Nada que te importe. - Eu disse enquanto pensava que eu pudesse considerar a minha divagação como a Opção 3.
__ Bem, não sei se você percebeu com o seu cérebro de patricinha, mas nós estamos trancados aqui dentro.
Eu não conseguia acreditar no que eu tinha acabado de escutar.
__ Eu estou surpresa que você com o seu cérebro de ervilha tenha conseguido chegar nessa conclusão sozinho. - Eu contra-ataquei irritada.
E então eu me lembrei que talvez Shana, Maya e Zayn gostassem de saber que eu estava trancada dentro da sala de arquivos e registros da secretaria. Peguei meu celular e, com vontade de chorar até morrer, eu constatei que não tinha uma única barrinha de sinal.
__ Merda! - Xinguei baixinho batendo com a minha cabeça na porta.
Liam revirou os olhos e disse:
__ Eu já tentei isso antes.
Fechei os olhos e resmunguei:
__ Se você não calar a boca eu vou te matar e alegar legítima defesa quando eu sair daqui. - Assim que terminei comecei a considerar essa a minha Opção 4.
Já são quase quatro e quinze. Devem fazer uns dez minutos que a secretária nos trancou aqui dentro, o que quer dizer que nesse instante ela deve estar trancando o portão da entrada.
O que quer dizer que a Opção 1 está fora de cogitação agora.
E eu não quero nem considerar a opção 2.
Então, como sou nova demais e tenho uma longa vida pela frente, descarto a opção 3. Mas fico tentada a pôr a opção 4 em prática quando Liam diz:
__ De todas as pessoas no mundo, eu tinha que ficar aqui dentro justo com essa aí.
__ Pelo menos em uma coisa concordamos. - Eu disse sem abrir os olhos ainda.
A minha opção 5 que me restava era procurar um maldito sinal aqui dentro.
Então levantei com o meu celular em mãos e andei até perto da pequena janela. Não que eu não tenha a notado antes, mas ela não é do tipo que dá pra se abrir, o vidro é colado, só permite a entrada de luz.
Levantei meu celular acima da cabeça, mas ainda não havia sinal algum.
__ Por acaso tem algum escudo magnético aqui nessa sala? - Perguntei frustrada. - Não é possível que aqui não tenha sinal.
Liam me encarou como se eu fosse a maior idiota do mundo, ou algum tipo de ser inferior, e disse lentamente:
__ Há uma central militar aqui perto.
É claro, como eu me esqueci disso? Embora ele estivesse um pouco errado.
__ É aérea. - Eu disse me dando um tapa mental na testa. A cobertura de satélite aérea cria uma onda magnética, quando ligada é claro, que impede a captação de sinal a ambientes próximos.
__ Eles desligam às seis. - Ele disse. - E então religam uma hora e meia depois, por aí. - Liam disse.
__ Como você sabe disso? - Perguntei surpresa.
Ele me olhou como se eu fosse uma retardada.
__ Meu pai trabalha lá. E eles não podem ofuscar o sinal o tempo todo, de madrugada eles desligam de novo e religam de manhã.
__ E, tipo, sei lá, isso não dá problemas? Quer dizer, é uma cobertura militar, eles não devem estar atentos?
Ele semicerrou os olhos para mim.
__ Não tem nenhum motivo para estar ligada, eles só fazem isso porque é padrão. Faz treze anos desde que isso foi útil, agora é só um problema. Por mim desativavam aquilo. - Ele disse como se importasse.
__ Mas e seu pai não trabalha lá? - Perguntei.
__ E daí? - Ele perguntou.
__ Bem, pelo que parece, se eles desativarem lá, ele não acaba perdendo o emprego dele?
__ Ele é transferido. - Ele disse do mesmo modo lento e eu fiquei me sentindo uma idiota e resolvi calar a boca e me sentar no mesmo lugar.
Não sei como em algum momento da minha vida eu pude gostar desse garoto. Quer dizer, eu fui apaixonada por ele por cinco anos, em segredo é claro, e os únicos que sabiam era Shana e Zayn. Mas aí o cara é tipo como ele é. Um. Completo. Imbecil.
Depois de alguns minutos em silêncio, nos quais eu fechei os olhos e me concentrei em me imaginar sentada no meu quarto, fingindo que estava apenas descansando a cabeça depois de um dia intenso, que eu havia conseguido fazer o que me tinha sido proposto e voltado em segurança para casa, Liam fez questão de estragar tudo e dizer:
__ Como vai o seu... hm... parceiro de trabalhos? - Ele parecia desdenhoso.
Eu abri os olhos e o encarei.
__ Você está falando do Zayn? - Perguntei.
Ele bufou.
__ Não sabia que já tinha outro.
Eu ignorei o último comentário dele e franzi a testa.
__ Mas vocês não são melhores amigos? Por que você está, tipo, perguntando isso pra mim?
Ele me olhou incrédulo por um minuto e depois deu um sorrisinho amargo e sarcástico.
__ Então ele não te contou?
__ Me contou o quê? - Tive o cuidado de manter a mesma expressão neutra no rosto.
__ Bem, parece que não. - Ele continuava com a mesma expressão amarga e sarcástica. - Para você entender eu vou ter que te contar uma pequena história. Quando eu estava na sétima série, e eu e ele, bem não sei como, éramos melhores amigos, fizemos um pacto. Esse pacto foi criado porque quisemos sair com a mesma menina e meio que brigamos por causa disso. Então juramos um para o outro, olha só que ridículo, que nossa amizade estaria acima de qualquer garota idiota. E isso funcionou bastante bem. Mas olha só, - Ele se desencostou da parede e se inclinou para a frente. - parece que você está além e acima desse juramento, talvez porque tenha aparecido antes, eu não faço ideia. - Ele pausou e desviou o olhar. - De qualquer forma, quebramos o pacto e com isso não somos mais amigos.
Eu fiquei embasbacada encarando o Liam.
__ Mas isso não faz sentido. - Ele voltou o olhar para mim.
__ O que não faz sentido? - Ele perguntou com o mesmo risinho amargo e sarcástico.
__ Porque não é como se vocês dois estivessem afim de mim. Olha só, você me odeia. E Zayn pode até ser o meu melhor amigo, mas não é mais que isso. E mesmo que fosse algo mais, você já deixou bem claro que não está interessado. Então: Isso. Não. Faz. Sentido. Nenhum.
Ele me encarou, realmente me encarou, e me analisou descaradamente.
__ Bem, parece que você realmente acredita nisso. - Ele disse e pareceu surpreso.
Ok, eu não estava entendendo diabos agora.
~ Shana on~
__ Ela não está demorando demais? - Perguntei nervosa e então vimos a secretária sair de carro da escola.
__ Por que ela ainda não saiu? - Perguntou Maya.
__ Isso não é uma boa coisa, ela já deveria ter saído. Quer dizer, a escola está trancada. - Eu disse apontando o óbvio.
__ O celular dela ou está fora de área, ou desligado. - Zayn disse.
__ Seunome nunca desliga o celular. - Maya disse o que eu estava pensando.
__ Droga! - Eu disse me dando conta. - Não tem uma base aérea do lado leste da escola?
__ Tem. - Zayn disse arregalando os olhos. - É do mesmo lado da sala de registros. Caraca! O sinal não pega lá.
__ E agora? - Perguntei começando a entrar em pânico. - Como vamos tirá-la de lá?
__ Não podemos invadir a escola. - Zayn disse. - É muita proteção, acho até que tem um alarme no portão.
__ Tem uma janela na sala. - Falei.
__ Sim, é verdade, tem mesmo. - Zayn disse me encarando com o rosto de repente iluminado. - E Seunome não tem nada com o que quebrá-la.
__ E por que ela simplesmente não abre? - Maya disse chamando a atenção de Zayn para ela.
__ Porque é vedada. - Ele diz. - Não tem como abrir.
__ Mas isso não seria vandalismo? - Perguntei preocupada. - Eles vão investigar quem fez isso e por que fez isso. Não tem como sermos mais discretos?
__ Não tem como entrarmos pelo portão. - Zayn disse.
__Não tem nenhuma entrada pelos fundos? - Perguntei esperançosa e Zayn me examinou.
__ Acho que tem uma cerca, mas podemos dar uma olhada. - Zayn disse.
__ Então vamos lá! - Maya exclamou. - Vamos dar uma olhada logo e ver o que podemos fazer para tirar Seunome de lá.
__ Só tem uma coisa que eu não entendo. - Zayn disse enquanto fazíamos a volta pelo lado oeste, para não ter que passar pela frente da escola. - Ela não devia ter demorado tanto. Eu espiei ela entrando lá, não era para ela ter levado mais de cinco minutos para sair de novo.
__ Vai ver ela não estava achando onde ela tinha que botar o registro da Chris. - Maya sugeriu.
__ Não, nós explicamos para ela. - Eu disse descartando a possibilidade. - Essa é uma boa pergunta. Alguma coisa aconteceu.
~ Você on~
__ É claro que eu acredito nisso. É a verdade, por que eu não acreditaria? - Eu disse começando a ficar irritada.
Liam me encarou e eu balancei a cabeça.
__ Por que eu estou dando satisfações a você sobre a minha vida mesmo? Quer dizer, você já deixou bem claro que me odeia. Agora ainda mais, parece que roubei o seu posto de melhor amigo do Zayn. - Eu disse finalmente irritada.
__ Você acha que eu estou bravo com você porque você roubou o, como você disse? Meu posto de melhor amigo do Zayn?
__ Não, eu não faço ideia do por que você está bravo comigo. Você não me parece ser bem certo. - Eu disse com a voz carregada do mesmo desdém que acabara de abandonar a dele. - Quer dizer, você fica aí espalhando ódio gratuito. Mas o que você acabou de dizer foi isso: Roubei o seu posto.
__ Eu não espalho ódio gratuito! - Ele disse defensivamente.
__ Você já deixou bem claro que me odeia e eu nunca fiz nada para você! - Quase gritei.
__ Isso não é verdade! - Ele disse se levantando e parando bem à minha frente.
__ É claro que é! - Eu disse me levantando e parando à frente dele também. - Eu nunca fiz nada para você!
__ Não é verdade que eu te odeio! - Ele gritou e então se virou de costas para mim enquanto passava a mão na nuca.
Eu fiquei parada lá, com uma cara de tonta.
__ Você não me odeia? - Me peguei dizendo com uma voz baixa e esperançosa.
Liam se virou para me encarar e eu vi a dor nos olhos dele.
__ Não sei... não, eu não odeio você. - Liam disse e passou a mão no rosto. - É tudo tão complicado!
__ O que é complicado?! - Eu perguntei exasperada.
__ Você! - Ele gritou. - Você é complicada! - E então ele baixou a voz e olhou para o chão ao invés de mim. - Eu não sei ser rejeitado.
__ Mas eu nunca rejeitei você! - Eu disse rápido. E então me toquei do quão ridícula eu estava soando. - Eu nem sei do que você está falando. - Eu disse com a compostura que me restava.
Ele me encarou.
__ Eu... eu não disse que você me rejeitou! - Ele disse recuperando a máscara de desdém. Foi aí que eu percebi que era tudo uma fachada, e que, principalmente, eu estava cansada de fingir.
__ Mas foi o que você quis dizer. - Eu disse e dei um passo hesitante em direção ao Liam. - Eu só não sei do que você está falando.
__ Nada que você possa entender com o seu raciocínio lento. - Ele disse coberto pela sua fachada e seu risinho irônico de desdém.
__ Não sei por que você faz isso. - Eu disse balançando a cabeça. - Por que você sente tanto prazer em me humilhar?
Ele me olhou. Analisou o meu rosto e sua expressão foi se dissolvendo aos poucos.
__ Por que você é tão cruel? - Continuei e segurei a respiração esperando a sua explosão de raiva.
Mas ela não veio.
Ao invés disso Liam cobriu o espaço que nos separava em dois passos rápidos e encontrou o meu olhar.
__ Por que você acha? Você sempre me ignorou.
__ Não Liam. - Eu neguei. - Eu nunca ignorei você. Na verdade eu sempre admirei você.
Ele me analisou com os olhos mais uma vez, e me surpreendendo da forma mais improvável, Liam me beijou.
Foi um beijo meio violento. Liam abraçou a minha cintura e me puxou para o mais perto possível dele. Eu finalmente tive uma reação: passei meus braços sobre os ombros dele e comecei a corresponder.
E então o barulho de vidro quebrando me tirou do meu transe e me fez olhar para a janela, agora quebrada, onde estavam os meus melhores amigos nos assistindo com expressões diferenciadas.
Maya me lançava um sorrisinho cúmplice.
Shana me lançava um olhar sério e reprovador.
Zayn parecia mais que irritado e fulminava Liam com o olhar.
Pelo menos eles foram me salvar.
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